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Deflação: o que o empreendedor precisa saber



O Brasil registrou, pela primeira vez em 11 anos, deflação na economia. Em junho, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medido pelo IBGE e usado como termômetro da inflação, caiu 0,23%, maior redução desde 2006. Desde que a notícia surgiu, muitos veículos de comunicação e analistas econômicos têm reforçado seu mal humor em relação à economia.


O receio é de que a redução de preços leve as pessoas a retraírem ainda mais o consumo à espera de uma queda ainda mais significativa. Com menos dinheiro em circulação, a oferta de crédito também cai, o que reduz ainda mais o consumo, gerando um círculo vicioso para a economia nacional.


Mas não é exatamente assim que acontece, na prática. Não é porque os preços estão em queda que o empreendedor precisa abaixar os preços dos seus produtos assim, instantaneamente. Separamos algumas perguntas para ajudar a entender melhor o que está acontecendo e de que maneira isso afeta o pequeno empreendedor.


Quando a deflação começa a prejudicar a economia, de fato?

Para que isso aconteça, é preciso uma sequência de pelo menos um ano de reduções. O que ocorreu com o IPCA em junho foi pontual, inédito em 11 anos. O dinheiro não desaparece da economia assim, de uma hora para outra. Ele apenas está circulando menos devido a uma série de questões políticas, o que tem tornado as pessoas mais conservadoras em relação ao consumo. E antes que isso se torne realmente uma ameaça, o Governo pode lançar mão de várias estratégias econômicas para frear a redução constante de preços.


O que a deflação tem a ver com a lei da oferta e procura?

Tudo. A oferta e procura é a lei que rege todas as relações econômicas. O que faz um produto ou serviço ser valorizado no mercado é a quantidade daquele produto ou serviço disponível para compra e o interesse das pessoas em adquiri-lo. Oferta e procura são inversamente proporcionais. Quanto mais procurado e menos disponível, mais caro. Quanto mais disponível e menos procurado, mais barato. Se as pessoas reduzem o consumo, obviamente os produtos e serviços ficarão mais disponíveis no mercado. E para serem vendidos, os empresários se veem induzidos a abaixarem os preços.


Isso significa que o empreendedor precisa correr e cortar seus preços?

Não. Primeiro porque a deflação foi um movimento isolado e ainda não é motivo de preocupação. Pelo histórico econômico e pelos hábitos de consumo do brasileiro, é pouco provável que esse movimento continue seguidamente, como é preciso para que a deflação se transforme realmente em um problema.


Depois, porque o que deve nortear as decisões sobre o preço de cada negócio, especialmente os de pequeno porte, não são os indicadores macroeconômicos, mas a lei de oferta e procura e a realidade do mercado em que ele está inserido. O empreendedor deve acompanhar a situação de perto. Mas precisa ter prudência antes de reduzir seus preços e levar essa nova realidade ao seu público.


Qual deve ser a preocupação do empreendedor, nesse momento?

Nesse e em todos os outros momentos da vida da empresa, o empreendedor deve se preocupar principalmente em garantir capital de giro e fluxo de caixa. Com dinheiro disponível para honrar seus compromissos, dificilmente ele será afetado pelas oscilações macroeconômicas porque estará menos predisposto a contrair dívidas a preços altos, pagará menos juros e poderá negociar condições melhores de compra junto aos seus fornecedores.


Como garantir um bom capital de giro e fluxo de caixa?

Precificando os produtos da maneira correta e garantindo que eles cubram não só os custos de produção e de manutenção do negócio, mas também tenham uma margem de lucro, ainda que pequena. Para tanto, é fundamental conhecer bem a realidade do segmento em que o negócio está inserido e o quanto as pessoas estão dispostas a pagar por aquele produto ou serviço. Sabendo quais são as demandas do público-alvo e acompanhando de perto o movimento da concorrência, fica mais fácil tomar decisões acertadas.


Portanto, antes de adotar qualquer redução nos preços, é preciso ter certeza de que isso não impactará a saúde financeira da empresa, tornando-a insustentável a curto e médio prazo. Se a queda de preços for prejudicar o capital de giro e o fluxo de caixa, o mais indicado é buscar outras soluções para o problema, como agregar valor ao produto e conquistar o cliente de outras maneiras, investindo em inovação e em fidelização.


O maior conselheiro do empreendedor deve ser sempre o departamento financeiro da própria empresa, e não o noticiário econômico.

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